Texto: Carlo Goldoni
Tradutor e Encenador: Marcus Villa Góis
Figurinos: Rino de Carvalho
Atores: Maria Bela, Ana Paula Bezzerra, Liliane Pires, Raiça Bomfim, Cida Lima Barreto, Elisângela Sena, André Trindade, Rogério Chagas, Toni Sena, Lélia Carvalho, Mariana Correia, Karen Souza, Bia Roriz, Rebeca Dantas, Lenira Santos, Leo Andrade, Daniel di Britto, Analisse Lessa, Paula Moreno.
Teatro: Sitorne, Rio Vermelho
Dias: 20 e 21 de julho (Sexta e Sábado) às 20h
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia).
Estréia nestes teatros da peça italiana “O Mentiroso” de Carlo Goldoni (1707-1793) com tradução de Marcus Villa Góis, levada aos palcos brasileiros 250 anos após a sua criação.
Sinopse: Florindo, com a ajuda de Briguela, dedica uma serenata anônima às filhas do Doutor Balela, Rosaura e Beatriz. Chega em Veneza Lélio dos Humildes, com seu criado Arlequim, que ao perceber a situação assume a autoria da serenata fingindo ele amor por Rosaura, e seu criado amor por Colombina, criada das filhas do Doutor. As mentiras são tão fecundas que de uma nascem cem e Lélio se enrola com as moças, com o pai delas, com seu amigo Otávio e com o seu próprio pai, Pantaleão. Em meio a tantas mentiras um sentimento verdadeiro nasce, o amor.
O Mentiroso é um espetáculo de máscaras que requer agilidade, prontidão e deformação corporal, deixando os atores irreconhecíveis. Uma linguagem especial do fazer teatral, na qual a frontalidade dos atores é bastante explorada assim como a expressão direta ao público com apartes e comentários. Enquanto o personagem principal Lélio dos Humildes mente, o público, que nunca é chamado a atuar, é cúmplice de suas falcatruas sem saber nunca se ele será descoberto ou não. Quem assiste ri das mentiras de Lélio que se complica cada vez mais para sustentá-las e da possibilidade dele ser descoberto. Os outros personagens ilustram o universo mítico que estamos representando: Arlequim, Pantaleão, Colombina, Briguela e Doutor são as máscaras que contracenam com os Enamorados: Lélio, Otávio, Rosaura, Beatriz e Florindo.
A profissão de ator nos tempos da Comédia dell’Arte sempre foi duramente combatida, muitas vezes confundida com a prostituição, era cassada pela igreja e pelos puritanos. São diversos os documentos deixados pelos atores em defesa de sua profissão. Normalmente não eram patrocinados por nenhum nobre, mas recebiam deles cartas de recomendação que permitiam viajar e apresentar as suas cenas nos pátios do palácios e feiras. Eram comédias críticas em sua essência que ridicularizavam os burgueses em ascendência. A relação entre os empregados e patrões estava no centro das representações. Empregados preguiçosos, famintos, espertos; patrões sovinas, cruéis e apaixonados ilustravam a gama de personagens representados na época.
O figurino concebido por Rino de Carvalho é a atualização do espírito da Comedia dell’Arte, não somente a roupa de Arlequim é feita de retalhos, mas a roupa de todos os personagens. Utilizamos toalhas de mesa, de banho, cortinas e roupas usadas. Todas desfeitas cuidadosamente por nossa costureira Angélica da Paixão e refeitas por cor e modelo. Assim a saia de Rosaura, por exemplo, é feita de uma toalha de mesa e expõe uma linda vaquinha em sua borda interna. São as nossas condições, as nossas realidades que devemos ressaltar. Da mesma forma o cenário, a vista da cidade de Veneza, é pintado em uma cortina. Não existe disfarce, não é para parecer uma parede, não esticamos o tecido em uma armação de madeira. Ele é dobrável para que possamos apresentar o maior número de vezes possível, nos lugares mais inusitados. A cortina relembra as viagens dos cômicos em suas carroças, transportando o cenário para todos os lugares. A luz é simples mais cria ambientes das casas de Doutor e Pantaleão assim como a noite da serenata. Mas o espetáculo pode ser feito inclusive sem luz no entardecer, o que importa é o ator, é a relação entre as personagens viva e dinâmica. A música pontua momentos do espetáculo, dinamiza e traduz ao nosso tempo o que as mentiras querem dizer.